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O casal da marquise

A chuva, um casal, uma marquise e uma breve historia .


O que você faz quando termina uma reunião em um café e está um temporal do lado de fora e você sem guarda chuva? Espera a chuva passar, seria a resposta mais óbvia.

Eu não. Na última semana, consegui me tornar invisível.


Eis que estamos embaixo da marquise, evitando que a chuva nos pegue, eu e mais um casal, que até aquele momento eu não sabia que eram dois seres individualizados.

Momento constrangedor, todo mundo pertinho, e eu escuto o papinho habitual, não te conheço de algum lugar? Hein? A mesma pergunta que eu ouvia há uns 20 anos atrás? Como assim? Nada mudou?


A primeira coisa que pensei foi que talvez o sujeito tivesse visão de raio X. Superman,é você? A mulher estava de máscara, dá para imaginar? Como alguém diz que te conhece de algum lugar te olhando de máscara?


Eu não reconheço nem os meus amigos de anos quando nos esbarramos nas padarias e supermercados da vida. Afinal, atualmente, esses tem sido os poucos lugares que temos encontrado as pessoas. Sem esquecer das farmácias, mas, felizmente, minha saúde tem estado em dia.


Se fosse eu, com minha educação peculiar já teria destruído o sujeito nessa primeira tentativa, mas para sorte dele, a moça da marquise era educada

Como a história não é comigo, apenas sigo na escuta.


Creio que não nos conhecemos, ela responde. Educada, direta e sem rodeios.

Mas, o sujeito estava ali mesmo sem fazer nada, a chuva ficando cada vez mais forte, por que não insistir mais uma vez.


Será que você não foi minha aluna? Foi a segunda tacada que veio junto com uma informação, sou professor de Direito.

Com certeza, não. Estava decidido. Ela não queria papo, não tinha interesse ou não estava disposta a dialogar mesmo. Tem dia que a gente sente preguiça até de conversar, não é?


Só que a vida é sorrateira e prega peças.


Eis que passou um caminhão em alta velocidade e aquela poça enorme de água suja, que estava bem na esquina do café, voou pelos ares e foi direto no vestido de seda da moça da marquise.

E não é que de repente, a situação se modificou?


O grito da moça pelo susto, o vestido todo molhado e o ar de desespero que a tomou, despertou o cavalheirismo do professor de direito e comecei a achá-lo até mais simpático.


Ele rapidamente tirou o blazer que vestia e ofereceu para a moça colocar por cima do vestido.

Ela não teve como recusar. Baixou a guarda. Ana, era o nome dela. O dele, João.


Reconheçamos. Foi educado. Cavalheiro, não? Será que a gente anda tão pobre de gestos de gentileza que pequenos atos criam momentos de ilusão?


Fato é que a poça de água suja teve o poder de encantamento. A partir do episódio a conversa correu solta, falaram de suas vidas, dos casamentos, separações, filhos, descobriram até amigos em comum.


De repente, a chuva cessou. Ela quis devolver o blazer, ele não aceitou. Disse que podia seguir o dia com ele.

Trocaram cartões. Ela agradeceu mais uma vez.

Ela seguiu plena atravessando a rua.

Ele tornou-se o super herói da marquise. Salvou a moça do constrangimento. Ganhou o dia.

Ana, terá que explicar o motivo de ter chegado com um blazer masculino em casa.

Eu, na minha invisibilidade imaginária, percebi que ele a acompanhou com os olhos.

Mas, não demorou e eu logo escutei uma voz conhecida:


-Eu não te conheço de algum lugar?

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Olá, que bom ver você por aqui!

Espero que ache o conteúdo interessante e que ele desperte em você algo especial.

Beijinhos, Gisele

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