Poderia ser uma resenha...mas, é só meu ponto de vista
Uma análise pessoal e alguns devaneios sobre o livro do mês.

Bem-vindo ao primeiro post do blog!!! Estou começando essa empreitada e achei que iniciar com "Poderia ser uma resenha....mas, é só meu ponto de vista", seria uma forma de sanar a curiosidade de outros leitores que perguntam sobre os livros que leio no mês, nas indicações de leitura no meu instagram. Vamos iniciar com Lori Gottlieb e o aclamado "Talvez você deva conversar com alguém". Espero que curtam "meu ponto de vista" !
Beijinhos, Gisele
“As pessoas farão qualquer coisa, por mais absurda que seja, para evitar encarar suas próprias almas”.
Carl Jung”
Quem nunca pensou em fazer terapia ou já teve coragem de encará-la?
Eu, por exemplo, faço terapia há pouco tempo e ainda acho interessante o processo de selecionar o que dizer nas minhas sessões. Tenho a impressão que estou criando numa série televisiva e que cada sessão corresponde a um episódio, envolvendo personagens escalados para o elenco da trama (ou drama?) da minha vida.
Além disso, ainda me questiono se estou narrando a versão real dos fatos ou se eles foram romantizados para puxar “levemente” a versão para o meu lado.
Verdade seja dita, a gente sempre acredita que o motivo de termos procurado a terapia é aquele problema que nos perturba no momento presente, mas qual não é a surpresa quando descobrimos que as questões são bem mais profundas.
Tenho a sensação que fazer terapia é igual brincar com aqueles bloquinhos da nossa infância. A gente construía prédios e casas para depois destruir tudo e voltar a reconstruir no dia seguinte. É isso, um eterno desconstruir e construir, com a intenção de atingir uma nova edificação pessoal, mais consciente da realidade, sem devaneios, ilusões ou culpas..
Mas, e o livro da Lori Gottlieb?
SIM, JÁ CHEGO LÁ. Para os desavisados, informo que esse texto até tinha a pretensão de ser uma resenha, mas ficou difícil demais ignorar o meu ponto de vista, logo, lamento informar, você terá que se deparar com alguns do meus devaneios pessoais sobre o assunto.
Mas, vamos em frente. Não estou tão desconectada do livro como pode parecer, ele também se dispõe a enfrentar esses dilemas que mencionei, além de várias outras questões bem mais complexas da vida dos “personagens-pacientes” que resolveram encarar a terapia.
Exatamente como o próprio nome do livro, ele gira em torno de uma terapeuta (a personagem principal) lutando com seus dilemas pessoais, a relação dela com o próprio terapeuta durante as sessões (o enigmático e preciso Wendell) e os dramas e histórias dos pacientes da própria prática clínica de Lori.
Confesso que à primeira vista, pensei que poderia ser entediante passar as 446 páginas, ouvindo dramas e conflitos de narrações terapêuticas, pensei até se o livro não seria mais indicado apenas a estudantes de psicologia ou terapeutas em exercício profissional.
Ah, mas como é bom ser surpreendida por um livro!
A autora conseguiu com maestria pegar o cenário da prática profissional, alguns casos polêmicos da atividade clínica e as mazelas da própria vida e direcionar a um ponto comum: tratar de relações humanas e toda a complexidade que as envolve.
Os diferentes casos dos pacientes que transitam entre doenças crônicas, a relação entre vida e morte, culpas, separações, entre outros temas, exemplificam como vivemos os mesmos dramas, como somos tão parecidos nas nossas angústias, erros e acertos.
Também deflagra como fantasiamos ou nos deixamos derrotar por situações que criamos em nossa própria mente e como tais “criações mentais” podem não corresponder à realidade dos fatos, mas, mesmo assim, direcionar nossas vidas.
É justamente durante as sessões e os dilemas vividos por Lori junto a seus pacientes que somos absorvidos pelas discussões dos temas levados à terapia.
Houve momentos que precisei parar a leitura. Tive a necessidade de me dar um tempo para refletir, questionar, analisar ou agradecer, para não dizer que em outros não deu para conter as lágrimas. Sim, você irá se emocionar.
Não tem jeito, a gente se reconhece em vários personagens, em algumas das atitudes no decorrer das “sessões de terapia”, nos erros e nas tentativas de acerto. Iremos nos reconhecer nos relacionamentos com os outros e na nossa humanidade comum.
Por outro lado, o livro também é uma biografia de Lori Gottlieb. Descreve no meio desse contexto, a trajetória profissional e as fragilidades dela no exercício da profissão de terapeuta.
Ela teve a habilidade de conseguir juntar o lado profissional e pessoal, demonstrando que assim como os pacientes que ela atendia, ela também tinha questões a serem solucionadas, problemas a serem encarados e muitas fraquezas, exatamente, como todos nós.
Não sei se eu escolhi a leitura ou se esse livro me escolheu.
De fato, estou numa fase de auto reflexão ou como disse a Lori, “tendo coragem de encarar a minha humanidade para que eu possa enxergar com mais clareza”.
Caso você queira saber se é possível mudar para enfrentar a realidade que nos cerca, esse livro pode te ajudar a iniciar esse caminho. E quem sabe o seu próximo passo seja “desnudar-se” perante um total desconhecido, seu terapeuta, que irá saber dos seus segredos mais profundos.
Coragem! Boa leitura.
Gisele
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